Grades do Rio
Ninfa Parreiras
Foram telefonemas. Mensagens de emails. Recados. Como está o Rio? Tome cuidado! Interrompa seus trabalhos e viaje! Suma daí! As notícias: são as piores. Tanques do exército, helicópteros, armas de guerra, poeira e uma batalha sem data pra acabar.
Venha pra cá, largue tudo, mude-se pro Algarve, pra Bavária, pra Amazônia, pra Porto Alegre, pros confins das Gerais... Foram muitos os amigos, as vozes de alento. Quem está longe vê o caos ainda mais caótico. Tudo no Rio é exagerado: a beleza, a tristeza, a guerra.
O Rio de Janeiro continua lindo, entre grades, paredes e coletes a prova de balas. Caminho pela orla diariamente, a admirar o mar, as aves, as ondas que brincam de pega-pega pra ver qual chega primeiro. Um dia, alcanço o infinito do oceano.
Dia destes, me chamou a atenção o colete a prova de balas que usavam os seguranças de alguns edifícios no Leblon. O que era aquilo? Por que usar tal colete à beira mar? Era a guerra. Declarada. Bem perto de nós. Em cada esquina, quilos de munição, policiais armados. Um desconforto pra todos.
Há poucos quilômetros dali, na área da Penha, um confronto de forças. Uma luta social. Milhares de famílias expostas, sacrificadas, velhos, adultos e crianças sem saber pra onde ir. À praia? Haveria mar pra todos? Na areia caberiam todos os sonhos? Como fugir? Nossa Senhora da Penha daria conta de atender a tantos pedidos? Bandidos!
Entre grades, o Rio abre a beleza, desdobra suas curvas, seduz... Uma floresta que abraça uma cidade inteira, um mar que banha cada parte oceânica. Casas antigas, sobrados, linha do trem... História, cultura, natureza: reunidos num só lugar. Colinas que abrem a cidade aos oito cantos. Cantos? Conta mais da cidade! As pessoas que aqui vivem falam da cidade com boca cheia de orgulho e gosto pela indiscutível beleza. Ou falam com desgosto e preocupação.
Mais que a arquitetura, a plástica, a urbanização, a natureza, faltaria algo. Um cuidado com as pessoas, com os cariocas, com os trabalhadores, com as famílias, com os indigentes, com os estudantes, com os migrantes, com os imigrantes, com os turistas, com todos que vivemos na Cidade Maravilhosa. Com os estrangeiros todos que aqui chegamos e com os que admiram o Rio de longe. Cuida de nós! É a voz que conclama o mundo a favor do Rio neste inesquecível novembro de 2010.
foto: arquivo do Rio, Lagoa Rodrigo de Freitas, primavera, 2008
Mais que a arquitetura, a plástica, a urbanização, a natureza, faltaria algo. Um cuidado com as pessoas, com os cariocas, com os trabalhadores, com as famílias, com os indigentes, com os estudantes, com os migrantes, com os imigrantes, com os turistas, com todos que vivemos na Cidade Maravilhosa. Com os estrangeiros todos que aqui chegamos e com os que admiram o Rio de longe. Cuida de nós! É a voz que conclama o mundo a favor do Rio neste inesquecível novembro de 2010.
foto: arquivo do Rio, Lagoa Rodrigo de Freitas, primavera, 2008