Ninfa Parreiras
Como podemos caracterizar o livro de imagem? Aquele feito apenas para crianças que não lêem as letras? O livro que não tem texto? Uma obra para alfabetizar os pequenos? Um livro feito de imagens que ensinam?
O livro de imagem é constituído exclusivamente de ilustrações (desenhos, pinturas) e/ou de imagens (fotografias, montagens, colagens), sem objetivo didático de ensinar nem de alfabetizar. Não há texto no livro de imagem e, se houver, uma ou outra palavra que não faria falta à leitura. No livro de imagem, o que conta a história, o que relata o ocorrido, são as ilustrações. Não necessariamente são obras de caráter informativo, que falam sobre frutas, sobre animais, por exemplo. A criança poderá tomar contato com uma gama de objetos diferentes, com cores e texturas variadas. E poderá acompanhar a sequência de um fato ocorrido ou experimentar diferentes sensações visuais, sem ser a narrativa de uma história.
Não há condição a priori no livro de imagem: ensinar, educar, alfabetizar. É uma obra de entretenimento, para a criança manusear, passar os dedos, os olhos e apreciar as imagens. Se houver algum aprendizado após a leitura ou alguma satisfação da criança no contato com a obra são eventos que acontecerão a posteriori. Não podem ser o objetivo do autor, nem da editora, nem do mediador de leitura (os pais, os professores). O contato e a aproximação de uma criança com um livro devem ser incentivados sem a espera de resultados imediatos. Mais que tudo, o livro de imagem traz a possibilidade de contato com a arte (da imagem), com o mundo interno da criança (fantasias, dúvidas, sonhos). Ao manusear e tocar esses livros, aos poucos, a criança é introduzida no universo mágico da literatura. Ela conhecerá outras realidades, outras experiências. E poderá usufruir de obras cuja linguagem predominante é a ilustração, tão necessária para apurar o olhar e outros sentidos.
Esse tipo de livro é muito comum no Brasil, como iniciativa dos ilustradores que, na maioria das vezes, são os autores da obra. Isso porque acontece de termos uma obra ilustrada com a parceria de um escritor que concebeu a ideia das imagens, juntamente com o ilustrador.
A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, instituição pioneira no Brasil na seleção e premiação de obras para a infância, criou, em 1981, o Prêmio Melhor Livro de Imagem, concedido anualmente às melhores obras da categoria. Em 2011, esse prêmio completa 30 anos e comprova a qualidade das obras publicadas na área. Artistas como André Neves, Roger Mello, Angela-Lago, Nelson Cruz, Marilda Castanha, Ivan Zigg, Juarez Machado, Eliardo França, Eva Furnari, Graça Lima, Mariana Massarani se destacam como autores de livros de imagem e também como ilustradores. O Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens (de 06 a 17 de junho de 2011: http://www.fnlij.org.br/) vem aí e vale a pena conferir os livros desses e de outros autores brasileiros e estrangeiros!
Um dos primeiros livros de imagem publicado no Brasil é Ida e volta, de Juarez Machado, da editora Agir, de 1980, indicado para crianças de todas as idades. Há obras sem texto que são bem lidas também pelas crianças maiores, pela complexidade da trama ou das metáforas traduzidas em imagens. Ida e volta leva o leitor a um labirinto de pegadas como o movimento de passar as páginas de um livro. Além das características lúdicas e das metáforas, a presença da metalinguagem se destaca, quando temos a oportunidade de questionar a própria criação artística, num ir e vir à busca de caminhos. Obra premiada pela FNLIJ como Melhor Livro de Imagem em 1981.
(para a professora Marisa Bello, da EM Maria de Jesus Oliveira, Rio de Janeiro)