Rio de Janeiro, 06 de maio de 2012.
Joel, querido amigo,
Joel, querido amigo,
Fico olhando aquele
quadro, aquele painel feito pelos alunos do CEAT com seu rosto, sua imagem
(aquele coordenado pela professora Gisele Felix, meio estilo Vik Muniz), ele me
faz pensar nas suas cartas. No fazer a mão. Cartas ao filho, cartas ao Brasil, cartas
aos brasileiros. O que você escreveu é uma ética para a infância. Uma ética
para a relação pai-filho. Ali, tem ainda um tratado do que é literatura para
crianças, do que é a transmissão das histórias.
A tentativa de um pai escutar o filho. De longe. Detrás das grades.
Você fez o que o Freud nos ensinou com a sublimação, transformou dor em arte, transformou falta em escrita.
A tentativa de um pai escutar o filho. De longe. Detrás das grades.
Você fez o que o Freud nos ensinou com a sublimação, transformou dor em arte, transformou falta em escrita.
Joel Rufino dos
Santos: você é um exemplo de pai. Um pai não somente para Nelson e Juliana, e
os seus netos. Um pai para nós brasileiros. Somos todos um pouquinho seus
filhos. Pelas páginas de História que escreveu. Pelas paisagens brasileiras que
passou a limpo. Pelos movimentos políticos, étnicos, sociais e culturais que
liderou e participou. Pelo exemplo que reedita a cada texto escrito, a cada
ensaio, a cada livro, a cada fala.
Nós, que andamos tão
órfãos de pais, precisamos de um cuidador. Das suas palavras lapidadas em
contos. Do seu compromisso com a palavra, a história, o país. Num tempo em que
as leis se desmoronam, há a falência da função paterna, Quando eu voltei, tive
uma surpresa é um exemplo de holding, de contorno, de colo, nas palavras do
psicanalista inglês Winnicott. Pai amoroso, pai que corresponde com o filho
(responde com o coração).
Você abria as celas da
prisão e deixava o seu coração falar em cores, em desenhos, em palavras... Sua
voz ecoava para um país calado pela ditadura. Agradecemos à Teresa, sua esposa
e companheira, o cuidado em ter guardado tão preciosas cartas! Joel, pai, Joel autor, o CEAT lhe presta essa
homenagem como reconhecimento ao seu trabalho, à sua presença cidadã, às suas
palavras de pai, de escritor, de mestre, de professor, de contador de
histórias.
Ninfa Parreiras
Psicanalista,
especialista em Literatura Infantil e Juvenil
foto:
arquivo pessoal, Casa Vermelha, Santa Teresa, Rio, outono 2012