Cadeados do amor
Ninfa
Parreiras
As pessoas são capazes de muitas
coisas. Pelo amor. O amor é um escândalo. É uma transgressão. Um salto no mais
alto escuro. Um mergulho no que há de mais fundo na nossa alma. Uma entrega sem
limites. Destemperada, adoçada, apimentada.
Ao caminhar em um parque de Freiburg,
no último inverno na Alemanha, uma ponte repleta de cadeados amorosos. Casais apaixonados
selaram, ali, com os nomes gravados, seus compromissos amorosos. Há cadeados de
todos os tipos, cores, formas, marcas. Com brilhantinhos, com alcinhas. Há cadeados
de famílias, um preso ao outro. Nomes e sobrenomes. Apelidos. Em alemão, em
árabe, em línguas eslavas, em outras que desconheço.
E as chaves? Estariam guardadas em
algum lugar?
A ponte atravessa um belo lago rodeado de árvores e de trilhas próprias para caminhadas, passeios de bicicleta, patins. O vento soprava gelado. E os cadeados permaneciam trancados. Quase congelados. Como se a relação estivesse blindada contra surpresas, ameaças. Será possível trancar um amor assim?
Não posso deixar de pensar nos contos de fadas, nas juras de amor das princesas e príncipes, nos desafios impostos a personagens encantados. A vida é feita mesmo de coisas mágicas, de sonhos que inventamos e reeditamos.
Naquela tarde, vi passarem
esportistas, famílias, casais, bebês levados pelos pais. Vi passar a ponte dos
amores. Vi passar a vida. Não vi as chaves.
Fotos: arquivo pessoal, Freiburg,
Alemanha, inverno 2013
pra Renata Gomide Hank