O
vermelho amargo
Ninfa Parreiras
As palavras
nos levam a lugares que não conhecemos. E nos levam a lugares familiares, mas
estranhos. Aqueles que habitam nossas grutas e labirintos interiores.
O que
dizer de tomates, em fatias finas? Em cortes, os afetos chegavam, a ausência se
acentuava e a maldade se concretizava em lâminas quase transparentes. Esta obra
de Bartolomeu Campos de Queirós, laureada com o Prêmio São Paulo de Literatura
em 2012, nos revela a feminilidade à flor da pele: o sangue que escorre, a
fertilidade da mulher, a falta. A perversidade. Uma mulher que se vai, outra que
fica, como sombra. É amargo o tomate. É amargo o existir.
Adaptada
pela Companhia Aberta de Teatro, criada por Daniel
Carvalho Faria e Davi de Carvalho no Rio de Janeiro em 2011, traz o espetáculo
Vermelho Amargo como sua primeira experiência. Em cena, três atores: Diogo
Liberano (que assina a direção), Daniel Carvalho Faria e Davi de Carvalho, com
a colaboração de Vera Holtz.
O que há de bacana no trabalho desse grupo é a paixão com que se
entregam ao texto de Bartolomeu: às feridas, aos amores, às partidas, às
adversidades. Com um cenário que se transforma feito nuvem no céu, os atores se
deslocam com fundo musical. Trazem as poéticas palavras do autor mineiro,
passeiam por cidades pequenas, estradas empoeiradas, viagens de um pai
distante. Imprimem no presente o que há de melhor na obra de Bartolomeu: as
imagens, as metáforas e a musicalidade de uma linguagem que cativa leitores de
todas as idades.
Os atores brincam, choram, riem, conversam e convivem ainda com um
silêncio que corta de tristeza nossa alma. Deslocam-se por tempos que não
voltam mais, a não ser da fantasia de cada um de nós.
Atenção àqueles que conhecem a obra do Bartolomeu, esse espetáculo
é imperdível. E aos que não a conhecem, que tal começar por este Vermelho amargo que nos impele a falar
da vida?
Para saber mais: http://amargovermelho.no facebook: https://www.