Flores
raras e banalíssimas
A
história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop
Carmen
R. Oliveira
Rio
de Janeiro: Rocco, 1995
Conhecer um relacionamento amoroso
entre duas mulheres, talentosas e sensíveis, nos faz pensar sobre a criação
amorosa e o trabalho. Chegam ainda dores e perdas. As relações são feitas de
tudo isso. De novembro de 1951 a setembro de 1967, Maria Carlota Costallat de
Macedo Soares (1910-1967), brasileira, nascida em Paris, e a norte-americana Elizabeth
Bishop (1911–1979) viveram uma relação intensa, marcada por descobertas e
viagens. Entre Lota e Bishop, havia ora um compasso, ora um descompasso de
trocas e paixões. Realizaram uma vida amorosa, rodeadas de amigos, de um
ambiente natural da serra fluminense. E também de tensões e incompatibilidades.
Por um lado, da parte de
Lota, a construção de uma casa e jardins em Samambaia, Petrópolis, RJ, a
idealização do Parque do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, a convivência
com artistas, escritores e arquitetos consagrados da época, o gosto apurado, a
preocupação com o viver bem. Por outro lado, da parte de Bishop, a sensibilidade
para fazer poemas, o olhar que descortina o Brasil, a busca de um recanto
acolhedor, a convivência com amigos de outros continentes, que vieram
visitá-la: Aldous Huxley, Raymond Aron, Nicolas Nabokov, John dos Passos... Uma
parceria amorosa, regada por arte, literatura e natureza.
Se uma era muito segura e
empreendedora, a outra frágil e dependente. Ao conhecermos a história das duas,
percebemos o quanto o desamparo as acompanhava. Lota parecia uma mulher segura
e valente, mas não suportou a ideia de perder a companheira que volta para Nova
York. Bishop não conseguia produzir no contexto que marcou o tempo de trabalho
de Lota no projeto do Parque do Aterro do Flamengo. Uma sentia a falta da
outra.
A generosidade delas, em
compartilhar suas criações, os jardins da casa serrana, o Parque do Flamengo,
os poemas, as traduções, nos mostra a parceria e a relação que se desenvolveu.
Uma gostava de ler para a outra. Juntas, construíram uma família. Parece que o
afastamento delas não foi favorável para nenhuma delas. O Brasil, inicialmente
estranho para Bishop, era o lugar onde ela teve uma casa, que enriqueceu sua
vida. Fez inúmeras viagens pelo país, com destaque para Ouro Preto, onde também
residiu parte da sua vida e para a Amazônia, onde esteve mais de uma vez
atraída pela excentricidade das pessoas, das matas e comidas.
Carlos Drummond de
Andrade, Manuel Bandeira e Clarice Lispector foram alguns dos escritores das
leituras de cabeceira de Bishop. Encantada pela informalidade e identidade
desses artistas, ela traduziu alguns dos seus textos.
O que há de melhor na obra
de Carmen R. Oliveira, adaptada recentemente para o cinema, pelo diretor Bruno
Barreto, é o contato com a história das duas amantes. Outras obras retratam o
universo de Bishop, com passagens discretas pela sua experiência brasileira. Em
Flores raras e banalíssimas, temos a
intensidade de afetos das duas e das pessoas e acontecimentos que as cercaram:
parte importante da história do Rio de Janeiro e do Brasil protagonizada por
Lota e a revelação da poesia de Bishop, considerada uma das mais importantes
poetas de língua inglesa.
Ninfa Parreiras
Antologia
ilustrada da poesia brasileira, para crianças de qualquer idade
Organização
e ilustrações Adriana Calcanhotto
Rio
de Janeiro: Casa da Palavra, 2013
Ler
poemas para crianças de qualquer idade inclui no público as crianças, os jovens
e os adultos: toda a família! Isso realiza uma das características da
literatura: a de ser universal e atemporal. A poesia não pode mesmo ser
endereçada a um único público.
Ao folhear esta delicada
obra organizada por Adriana Calcanhotto, passeamos por diferentes épocas,
estilos e poetas brasileiros. Ela reuniu de Afrânio Peixoto, poeta baiano, a
Arnaldo Antunes, poeta paulistano. Do carioca Vinicius de Moraes ao mineiro
Carlos Drummond de Andrade. São dezenas de poemas que nos presenteiam com
brincadeiras, dúvidas, non sense,
ironia, descobertas, estações, animais. Coisas para cada leitor descobrir!
Na poesia, encontramos
elementos tão necessários a nossa vida: a musicalidade, os ritmos, os
movimentos e a brincadeira de palavras. E ainda o não entender o que se lê. Como
na vida, não entendemos tudo o que vivemos. A poesia não é para ser entendida e
interpretada, mas para ser sentida e vivida, com todas as lacunas que traz.
Uma apresentação, um
sumário, a biografia dos poetas e a bibliografia enriquecem a obra editada pela
Casa da Palavra, que valoriza a produção poética de tantos escritores. Nada
como ler o poema e conhecer o autor! Sobre fundo claro, foi feita a impressão
dos versos. Ilustrações de Calcanhotto retratam imagens associadas aos versos e
nos convidam a virar a página e a ler mais um poema.
Ninfa Parreiras