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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Conversas



 (Edmea Campbell, Ruth Leite, Ninfa Parreiras e Lucia Morais, na apresentação no  Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho, Castelinho do Flamengo)
Conversas
Ruth Leite estreia no palco aos 80 anos, com o espetáculo de sua autoria: "Só conversas: monólogo em três solos", na primavera de 2018, no Rio de Janeiro. O papel da mulher na vida familiar e social e a grande mudança trazida pela terceira idade são alguns dos aspectos trabalhados no monólogo pela autora, artista plástica e atriz Ruth Leite.
Vida e obra conversam e estabelecem um diálogo permeado de lembranças, tristezas, aventuras e descobertas. Com um cenário simples e aconchegante (uma cadeira de braços e uma banqueta com livros), Ruth nos leva a divagar por viagens, páginas de muitas histórias que viveu em família e com seus parceiros amorosos. Essa opção pelo simples nos mostra certo desapego da personagem, que precisa de pouco para contar suas memórias. Chegamos a sentir cheiros e a provar sabores mencionados por ela, de tão vivas que são as sensações.
Canções em francês, espanhol e português são executadas em tom doce e firme, ao mesmo tempo. Somos transportados a um universo que nos lembra muito um setting psicanalítico, com pouca luz, livre associação de ideias, passado e presente brincando de faz de conta, num ir e vir de fantasias e indagações acerca da realidade. Para que serve a vida? E o que é arte?
Os três solos são fragmentos de Constança, personagem principal, que perto de completar 80 anos, passa sua vida a limpo. Se a memória é um canteiro da escrita, o monólogo de Ruth nos mostra que seu canteiro é bem cultivado e recheado de plantações. Ao ponto das palavras escritas subirem ao palco para contar e cantar. “Só conversas” seriam conversas solitárias e sozinhas? Ou o espetáculo traz apenas conversas? O título polissêmico não fecha interpretações nem estreita o sabor do monólogo. Pelo contrário, abre e oxigena leituras e sensações.
Sem a palavra e o contar, nossa vida seria sem graça e apagada. Conversar nos conecta com o outro de nós mesmos, com os outros. É isso que faz a personagem Constança, representada por Ruth - mulher de muitas vozes e de muitas conversas.
 Ninfa Parreiras



(Ninfa Parreiras, Ruth Leite e Isabela Hübner)

domingo, 29 de abril de 2018

Janelas da escrita: memória de Bartolomeu Campos de Queirós


Ninfa Parreiras autografando "Janelas da escrita: memória de Bartolomeu Campos de Queirós"

As janelas abertas de Papagaios, MG
Ninfa Parreiras
Dia 21 de abril de 2018 foi um dia histórico para a cultura em Minas Gerais. Em Papagaios, aconteceu o lançamento da obra Janelas da escrita: memória de Bartolomeu Campos de Queirós, da minha autoria. A Casa de Cultura Dona Petita e a Associação Cultural Bartolomeu Campos de Queirós abriram as janelas e as portas para receberem um público de cerca de 200 pessoas, algumas papagaienses, outras vindas de diversas partes do país. Uma comitiva de mais de 30 pessoas do Rio de Janeiro, outra comitiva de Belo Horizonte, de diversas cidades vizinhas de Papagaios, além de convidados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rondônia, Bahia, Portugal e de outros lugares. São todos amigos ou admiradores do saudoso Bartolomeu, que adotou Papagaios como sua cidade de origem.
Das 10h às 15h, o público pôde conhecer o Museu Bartolomeu Campos de Queirós, com móveis, livros e objetos de arte que foram do autor, doados pela família dele. Uma feira de artesanato local, um farto café da manhã, além da simpatia das pessoas da cidade foi o ponto forte do evento. E ainda um sarau com frases poéticas de Bartolomeu e palavras de boas vindas do prefeito Mário Reis Filgueiras, do presidente da Associação Cultural Bartolomeu Campos de Queirós, Dr. Gustavo Rezende Lobato, e da conselheira Rosa Maria Filgueiras Vieira.
O livro, publicado pelo Fundo Estadual de Cultura – FEC, de Minas Gerais, foi agraciado com um patrocínio que possibilitou a sua edição e distribuição gratuita aos presentes. Foi também doado a bibliotecas públicas locais, estaduais e federais. Coordenado duplamente pelo professor Adebal de Andrade Júnior e por Rosinha Filgueiras, o livro traz um trabalho que desenvolvi ao longo de 10 anos de pesquisa e de escrita/reescrita.
Visitei a cidade muitas vezes, escutei moradores contemporâneos do Bartolomeu e conheci locais pitorescos que marcaram a sua vida e, consequentemente, estão presentes em sua obra. Escrever sobre a produção literária de um dos mais importantes autores brasileiros dos últimos tempos foi tarefa difícil. Busquei metáforas que pudessem traduzir a força da literatura dele, como a janela que abre e fecha, em permanente diálogo com a escrita e a vida.
Autor de 69 livros publicados para todos os públicos, Bartolomeu morou na sua juventude na cidade, onde fez inúmeros amigos e contribuiu intensamente, ao longo dos anos, para o fortalecimento da vida cultural e educacional do município.
O que mais me impressionou no dia 21 de abril foi a acolhida calorosa das pessoas e a organização impecável do cerimonial que transcorreu bem e divulgou não somente a obra do Bartolomeu, mas o que há de melhor em Papagaios: a gente, a cultura e a gastronomia.
Estar em Papagaios fortaleceu um clima de responsabilidade social de todos nós para atravessarmos os tempos sombrios que estamos vivendo, com o desmonte de instituições e a dificuldade de publicações literárias e de realização de eventos literários. É na iniciativa coletiva, de diferentes segmentos da sociedade, que podemos reverter o cenário assustador de falência cultural do nosso país. A iniciativa pública e privada (governo e associações culturais), de mãos dadas, pode produzir cultura. Janelas da escrita: memória de Bartolomeu Campos de Queirós é um bom exemplo!
                                                                                                 (outubro, 2018)