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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Ziraldo: seus avessos e suas (tantas) faces


                        Ziraldo: seus avessos e suas (tantas) faces

 Ninfa Parreiras

Falar de Ziraldo é considerar a arte em suas múltiplas linguagens. Ziraldo é um artista de muitas faces: o cartazista, o caricaturista, o chargista, o cartunista, (se ficarmos na letra c). Seu abecedário se estica como o Rio Doce que atravessa a sua terra mineira, Caratinga, até o mar.
Em suas criações, traz a marca do despojamento e do ritmo. Imagens carregadas de bom senso e polifonia. Ele retrata personagens, cenas, protestos, encontros e capta o núcleo de alguma mensagem a ser transmitida. Ou o foco de uma abordagem social, política ou artística. Ele sabe conduzir nossos olhos, expectadores do mundo.
É um artista de muitos avessos: o ilustrador, o pintor, o publicitário, o escritor, o dramaturgo. Suas criações são para todos os públicos. Suas expressões estão destinadas a todos que vemos, lemos, interpretamos e nos deleitamos. Desde seu consagrado Flicts, aos seus Maluquinhos e Maluquinhas, bichinhos da maçã, Meninos Marrom, Morenos e tantos outros brasileiros e de outras nações. Seu personagem é o menino que habita dentro de cada um de nós. A fantasia que não podemos abandonar.
Além de tudo isso, Ziraldo é um entrevistador nato, capaz de fazer entrevistas a artistas sem um roteiro definido. Basta começar a falar que ele associa ideias e memórias. Isso acontece no seu programa ABZ do Ziraldo, do qual tive a oportunidade de participar e acompanhar diversos escritores e ilustradores entrevistados.
As marcas da sua literatura são tantas, destacamos a coloquialidade e o humor. É difícil fazer um livro com graça, com ironia. Sustentar o riso do leitor demanda fôlego e criatividade. Demanda cortes e surpresas, e isso Ziraldo sabe fazer. As questões abordadas em suas obras brotam de dentro para fora dos seus textos. Não são apelativas. Se ele trata sobre o autoritarismo, a identidade, isso não é a questão maior. O que se destaca são os jogos de palavras, a ludicidade de texto e ilustrações, num casamento inseparável. Aliás, assim são as suas obras de autoria de texto e imagem. Ziraldo foi ilustrador de célebres escritores como Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Ana Maria Machado, Chico Buarque, Darcy Ribeiro. E, mais, recentemente, de Paulo Leminski.
Menino do Rio Doce e Menina Nina são duas obras primas, para leitores de todas as idades. Lirismo e metáforas as caracterizam, são minhas prediletas. O som está presente nas imagens e nos textos, parece que acompanhamos uma orquestra com suas melodias, ritmos, alegorias, movimentos. E junto chegam os afetos, o olhar da criança a se deslocar por descobertas; ora de um rio e seus fantasmas; ora de uma dor e suas assombrações.
Outro aspecto interessante da obra de Ziraldo é a pesquisa de nomes, de grafias, seu encantamento pela palavra. Pela forma, pelo conteúdo, pelo som, pelo sentido e pelo sem fim de coisas que um nome pode trazer. Desde o início de sua obra literária para crianças e jovens, ele mostrou interesse por essa descoberta sem fim.
Ziraldo acumula prêmios nacionais e internacionais, está publicado em diversos países e tem um reconhecimento por seu trabalho artístico que merece nossos aplausos. Obrigada, Ziraldo, por compartilhar com a gente sua manhã de sábado!

homenagem apresentada na 6ª Festa Literária de Santa Teresa - FLIST, 2014, CEAT