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domingo, 28 de abril de 2013

Olhos de Outono


Olhos de outono
                                       Ninfa Parreiras

 O outono me fascina. Gosto da luz clara, ao mesmo tempo, esfumaçada. Nítida, com realce das cores. Como a luz do Barroco. A cena banhada em ouro, em camadas que se superpõem, em volumes. A paisagem esculpida. E toda a beleza cabe nela.
Dias curtos, temperatura suave, brisa pouca. Folhas caem. Ora preguiçosas. Ora envelhecidas. Desprendem-se e bailam. Autônomas, solteiras. Aos pares, em grupos, aos pedaços. Viram lixo, viram adubo. Viram outras coisas. Folhas novas virão.
No hemisfério norte, o outono traz um espetáculo para os olhos. As árvores revestem-se de cores amareladas, queimadas. Ficam floridas de folhas. Enferrujadas e avermelhadas. Os caminhos nos parques e nas ruas são tapetes de folhas. Tudo é folha. Fotografo o outono lá como quem acaba de nascer e descobrir: a natureza é generosa.
Olhar nos olhos das pessoas faz bem. Uma conversa de silêncios, de suspiros. De dúvidas. Há olhos que são de outono. Parecem desprender folhas que caem levemente e contam coisas. Histórias que desfolham os olhos. Histórias para quem lê os olhos.
Trincados, os olhos de outono variam: ora cor de mel, ora castanhos, ora verdes, ora negros. São olhos banhados de amor. Os olhos de outono se renovam de sonhos e plantam mais dúvidas nos olhos de quem os lê. Serão folhas que caem para chegar outras?

Foto: arquivo pessoal, outono em Tiradentes, MG, 2008